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Mitologia em Português

18 de Dezembro, 2020

Sobre a lenda de São Jorge e o Dragão

A lenda de São Jorge e o Dragão tem um papel muito curioso na sociedade ocidental, na medida em que este é um dos santos que é mais fácil de identificar - apresenta-se quase sempre como um cavaleiro prestes a defrontar um dragão em combate - mas, ao mesmo tempo, também um de aqueles em relação aos quais temos menos informação digna de crédito.

São Jorge e o dragão

Parecemos saber que São Jorge era, originalmente, um tal Jorge da Capadócia. Ou que foi um mártir. E é até possível que tenha sido um cavaleiro romano que se converteu ao Cristianismo, relembrando-nos histórias como a de São Martinho. Mas, mais que tudo, pelas histórias da Idade Média - deixe-se claro que toda esta informação não vem da Antiguidade, só nos surgindo na literatura mais de 500 anos após a suposta morte do santo - é-nos dado a conhecer que o seu principal feito é o de ter combatido e derrotado um dragão.

"Mas... os dragões não existem", poderia responder um qualquer leitor. É verdade, até porque nunca vimos um pessoalmente. Nesse sentido, quem for ler a Lenda Dourada, uma obra medieval sobre os supostos feitos dos santos, poderá aperceber-se de algo de estranho em toda a história. Muito sucintamente, nesse relato - possivelmente o mais antigo que temos (?) - o herói vai a uma cidade que é assolada por um monstruoso dragão (e que vomitava o seu veneno nas águas locais, envenenando os habitantes), e a quem os locais se preparavam para sacrificar a filha do rei. Ele salva então a princesa, derrota o monstro e converte a população ao Cristianismo, numa tripla vitória que faria inveja a muitos outros grandes santos da Antiguidade.

 

Será a história verdade, ou uma das muitas aventuras de cavalaria compostas na Idade Média, com as quais esta tem semelhanças inegáveis? Será a lenda de São Jorge e o Dragão apenas uma transposição cristã do mito de Perseu, ou de uma outra história semelhante a essa? Não sabemos (!), ou não podemos ter uma certeza completa, mas o que sabemos é que este santo representa um ideal de cavalaria que se tornou muito popular na Idade Média. Talvez seja por isso que ele acabou por se tornar padroeiro dos cavaleiros, dos soldados, de muitas outras coisas, e até um dos grandes santos padroeiros de Portugal. E isso nada tem de errado, mas há que deixar muito claro que quaisquer elementos biográficos associados à sua vida devem ser recebidos com um grande cepticismo, até porque só foram postos por escrito meio milénio após o suposto falecimento, ou martírio, do homem por detrás do santo. Mas isso raramente nos é dito, naquelas muitas vezes em que o vemos a combater o seu já-famoso opositor, que agora toma as mais diversas formas em cada nova representação...

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