"The Castle of Otranto", de Horace Walpole
Há alguns meses vieram perguntar-nos sobre The Castle of Otranto (em Português, "Castelo de Otranto"), de Horace Walpole, uma obra muito pouco lida em Portugal. É relativamente famosa no estrangeiro, em particular por se tratar da primeira novela com uma estética gótica, mas na verdade de que fala esta obra quase desconhecida entre nós?
The Castle of Otranto foi publicado em meados do século XVIII. Começa com um prefácio em que o autor diz apenas estar a traduzir um manuscrito antigo que encontrou (é falso, era uma ideia puramente literária comum na época, que até aparecia no Dom Quixote). Depois, a trama propriamente dita começa com a morte de Conrad no dia em que se preparava para casar, esmagado por um elmo gigantesco que caiu de algum lugar desconhecido. O pai deste, Manfred, desejando então ter mais um herdeiro do sexo masculino (já só tinha uma filha, e a esposa não parecia conseguir conceber novamente), criou na sua mente a ideia de casar com a bela noiva do filho. A ideia é repugnante, a recém-solteira Isabella sente-o e tenta evitar essa união a todo o custo, e... é assim que começa toda a aventura, onde as surpresas se vão seguindo e onde há todo um conjunto de ocorrências fantasmagóricas, desde quadros que se movem a fantasmas de cavaleiros e esqueletos vivos.
Apesar desses estranhos eventos, este The Castle of Otranto não é uma obra que assuste. É, isso sim, uma que surpreende o leitor página após página, pelas constantes curvas e contracurvas na narrativa, onde quase apenas no final se compreende a origem de todos os elementos místicos da trama. É interessante, é um livro digno de ser lido por quem gosta de novelas ditas góticas, mas o tema de hoje ainda não fica por aqui, há ainda uma breve curiosidade sobre esta obra que merece ser apontada aqui.
Otranto é uma povoação no sudeste de Itália, no chamado "calcanhar" da bota, onde ainda existe um castelo (não é ali o da imagem, que é aqui puramente ilustrativa). Assim, no passado alguns estudiosos sugeriram que a trama desta obra foi vagamente baseada na vida de Manfredo da Sicília (século XIII). De facto, existe alguma coincidência entre a história de The Castle of Otranto e a vida desse monarca usurpador, e quem for ler a obra com isso em mente apercebe-se mesmo de algumas coincidências, desde a referência inicial a um manuscrito italiano até a algumas das reviravoltas na acção. Mas nem tudo é verdade na obra, e a presença de muitos elementos misteriosos deixa isso bem claro...