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Mitologia em Português

12 de Agosto, 2020

'Verdade de la palisse' - origem e significado

Se as expressões verdade de la palisse, ou lapalissada, ainda são comuns na nossa língua, qual é a sua verdadeira origem e significado? Bem, a expressão nasceu de um nobre francês falecido no século XVI, de seu nome Jacques de La Palice (ou La Palisse, se preferirem essa ortografia), mas sem que se refira a absolutamente nada que ele tenha realizado na sua vida. E isto pode parecer um tanto ou quanto estranho, pelo que passamos então a explicar.

Um retrato moderno de La Palisse

Quando La Palice faleceu, foi escrito um epitáfio em que constavam as seguintes palavras francesas - s'il n'était pas mort, il ferait encore envie - que querem dizer algo como "se ele não estivesse morto, ainda agora causaria inveja". Porém, alguém as leu incorrectamente, tendo percebido que em vez do original, o epitáfio dizia antes era o seguinte - s'il n'était pas mort, il serait encore en_vie - ou seja, alterando-se apenas uma letra e adicionando um único espaço, a frase podia ser lida como "se ele não estivesse morto, ainda agora estaria vivo", o que representa uma ideia mais que óbvia.

Face a esta ideia, parece então ter-se gerado a (quase certamente falsa) sugestão de que La Palice, enquanto figura histórica, era uma pessoa que verdadeiramente tinha vivido a sua vida num conjunto constante de verdades muito óbvias. Depois, essa ideia gerou diversas cantigas populares, a mais famosa das quais atribuída a Bernard de la Monnoye, uma Chanson de la Palisse que parece ter múltiplas versões, e que atribui a esta figura coisas como as seguintes:

  • Não conseguia colocar o chapéu sem cobrir a sua cabeça;
  • Não perdia a calma excepto quando estava irritado;
  • Quando comia em casa dos seus vizinhos estava lá em pessoa;
  • Para melhor provar um vinho pensava que este devia ser bebido;
  • Se tivesse vivido solteiro, não teria qualquer esposa;
  • Não teria iguais a ele se tivesse sido o único;
  • Quando escrevia em verso não escrevia em prosa;
  • Dizia que uma égua era sempre a fêmea de um cavalo;
  • Enquanto bebia não dizia nenhuma palavra;
  • Quando estava aqui não estava ali;
  • Quando tinha os olhos fechados não conseguia ver nada;
  • ... entre muitas outras!

 

Naturalmente que não há qualquer verdade histórica comprovável por detrás de todas estas afirmações, são meramente jocosas, mas foi assim que a estranha popularidade da morte de La Palisse, mais do que a sua vida enquanto guerreiro em França, levou à origem da expressão verdade de la palisse, que não significa mais do que uma afirmação completamente indisputável, um truísmo,  do qual jamais alguém sano discordaria.

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