"Viriato Trágico", de Brás Garcia de Mascarenhas
Se existem obras de autoria portuguesa que foram imerecidamente esquecidas ao longo dos séculos, como a Gaticanea, já outras parecem ter sido muito bem esquecidas. Este Viriato Trágico, de Brás Garcia de Mascarenhas, pertence a esse segundo grupo. E não o dizemos de ânimo leve - quando se tenta ler uma obra do século XVII e, repetidamente, ela faz o leitor pensar algo como "meu deus, isto é profundamente aborrecido, porque estou mesmo a ler este poema?", o que mais podemos sequer dizer sobre ela?
Bem, o Viriato Trágico, de Brás Garcia de Mascarenhas, é um poema épico que só foi publicado após a morte do seu autor, em 1699 (ele faleceu em 1656), e que narra as aventuras de Viriato, aquela figura da história ibérica de que já cá falámos anteriormente. Para o escrever, o autor parece ter-se apoiado em fontes da Antiguidade, mas também recorrido, muito significativamente, à sua própria imaginação. É um poema de exaltação nacional, de defesa contra um invasor - Romano, no caso de Viriato, ou Espanhol, já no caso do poeta - com tudo aquilo que esperaríamos encontrar num épico. E até aí tudo bem, o tema é interessante e o contexto em que o poema foi escrito também, MAS já o próprio poema, a forma como foi escrito, é completamente aborrecida. Mesmo quando surge uma ideia mais interessante - um colega apontou, a título de exemplo, o instante em que o herói tem um sonho em que vê o futuro de Portugal - o tratamento que o poeta lhe dá é aquilo a que os anglófonos chamariam um snoozefest, um aborrecimento tal que numa sala de aula dificilmente um único aluno permaneceria acordado e disposto a ouvir uma leitura.
Talvez seja até possível ler este Viriato Trágico em extratos, em breves momentos aqui e ali, mas de um modo geral esta parece ser uma das obras poética mais aborrecidas alguma vez escritas em Português, quase tornando a Elegíada, do século XVI, uma construção em verso bem digna de ser apresentada e lida a todos os alunos do nosso país. Não a lemos por completo, pelas razões já tornadas claras acima, mas mencionamo-la aqui pelo simples facto de relembrar a existência de um poema épico nacional sobre Viriato...