A lenda da Nossa Senhora da Arrábida
É provável que a lenda da Nossa Senhora da Arrábida, em Setúbal, seja uma daquelas com que o espaço lendário se cruza diariamente na vida de milhares de pessoas, mas que também poucos ainda tendem a reconhecer. Sim, é famoso o Convento da Arrábida, construído no século XVI, mas esta história - e as devoções que lhe estão associadas - é-lhe muito anterior, possivelmente ainda das primeiras décadas do século XIII.
Conta então a lenda que um mercador estrangeiro, de nome Hildebrand (ou Hildebrant?), viajava para Lisboa quando, a meio de uma qualquer noite, se deparou com uma tempestade infernal. Temendo a enorme fúria dos mares, procurou uma imagem de Nossa Senhora a que já era muito devoto, mas por muito que a procurasse não conseguia encontrá-la em lado nenhum. Procurou então uma alternativa - pôs-se a rezar, juntamente com os seus companheiros de viagem, e depressa a tempestade desvaneceu, aparecendo igualmente, no meio de uma montanha próxima (a da Arrábida, naturalmente), uma enorme luz que aclarava o escuro da noite.
Curiosos, na manhã seguinte Hildebrand e os seus companheiros dirigiram-se para esse local, em busca da proveniência da luz misteriosa. E o que encontraram por lá? Nada mais, nada menos, do que a imagem que tinha desaparecido miraculosamente. Na verdade, foi tamanho esse milagre que Hildebrand abandonou a sua vida comercial e dedicou o resto dos seus dias ao local em que esta estranha ocorrência teve lugar, tornando-se ainda mais devoto do que antes.
Infelizmente, o local fundado por Hildebrand já há muito parece ter sido perdido nas vastas areias do tempo. Fruto de devoções posteriores, o mesmo espaço em que imagem original foi encontrada foi sendo reocupado por outros locais, nomeadamente pelo já-famoso Convento da Arrábida, o que nos impede de saber muito mais sobre o original, tal como ele foi fundado pelo ex-mercador e como existia anos depois, em finais do século XIII. Neste caso não temos a certeza se isso será necessariamente bom, mas pelo menos faz-nos acreditar na existência de uma grande e contínua devoção a esta figura da Nossa Senhora da Arrábida.