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Mitologia em Português

16 de Janeiro, 2024

Como os Cristãos gozavam os Pagãos? Um exemplo de Zacarias de Mitilene...

Nos primeiros séculos da nossa era existiu uma verdadeira guerra entre Cristãos e Pagãos. Dos ataques dos segundos já sabemos muito pouco, fruto da evidente tentativa de destruição de documentos dos seus adversários, mas existem muitas obras que, como a de Orósio, nos mostram o lado contrário da situação, o que os primeiros tinham para dizer de aqueles a quem se opunham.

Os Cristãos contra os Pagãos

Nesse sentido, poderíamos apresentar os nomes de mais umas quantas obras, até do tão importante Santo Agostinho, mas o tema de hoje parte da chamada Vida de Severo, de Zacarias Retórico (também conhecido por Zacarias de Mitilene). Esta é uma obra em que o confronto directo entre as duas religiões, nos séculos V e VI da nossa era, ainda tem um papel (quase) principal. Conta-nos, naturalmente, parte da vida de Severo de Antioquia, mas refere repetidamente alguns momentos de confronto entre Cristãos e Pagãos. Para nós, um dos mais interessantes é aquele em que os adeptos da nova religião gozam com os seus antecessores, contando-nos o autor que sobre os antigos deuses eram ditas coisas como estas:

Olhem para Dioniso, o deus que é mulher [por não ter barba]! Olhem para Cronos, que odeia as crianças [porque as comia]! Olhem para Zeus, o adúltero e amante de jovens rapazes [i.e. o mito de Ganimedes]. Ali está Atena, a virgem e amante da guerra, e ali está Ártemis, caçadora e deusa que odeia os estrangeiros. Ares, aquele daemon, faz a guerra, e aquele ali é Apolo, que destruiu muitos [pelos seus oráculos]. Ali está Afrodite, a primeira dama da prostituição! E existe um padroeiro dos roubos entre eles [i.e. Hermes], e Dioniso é o deus dos intoxicados. E, vejam só, entre eles até está o insolente dragão, e cães e macacos, e até ninhadas de gatos - pois até eles [, os animais,] são deuses do Egipto!

 

É, naturalmente, muito simplista esta visão da religião da Grécia e Roma Antiga. Tem o objectivo claro de ridicularizar até os grandes mistérios das antigas religiões, nas suas múltiplas faces, mas preserva-nos, queiramos ou não, um momento curioso da história europeia, o da grande decadência final do Paganismo, em que os opositores são agora construídos como completos tolinhos que continuam a acreditar nas "fábulas das velhotas". Por um lado é triste, mas por outro podemos, através de linhas como aquelas que ali reproduzimos, saber como poderá ter sido viver numa religião que não é a nossa em outros tempos...

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