Três mitos gregos de doenças e pragas, um deles pouco conhecido
Em tempo de Coronavírus, e parcialmente inspirado pelo que já foi feito em outros locais, decidimos tentar publicar um novo tema a cada dia até ao final do mês. Por agora, achámos que podíamos contar três pequenas histórias gregas que envolvem doenças e pragas.
Na verdade, existe um número bastante grande de mitos gregos que envolvem estes temas. Têm, normalmente, um primeiro aspecto comum, que passa pelo facto de um determinado herói, quando confrontado com uma situação dessa natureza, ir consultar um oráculo, que lhe diz que tem de realizar um dado feito para que a doença seja afastada da população. Mas, dito apenas assim, isto teria pouco interesse. Por isso, três casos específicos:
Um dos exemplos mais famosos é o caso de Édipo. Após ter morto o seu pai e casado com a sua verdadeira mãe, o herói tornou-se rei de Tebas. Quando a cidade foi afectada por uma praga, ele jurou que faria tudo o possível para a resolver. Com a ajuda de um profeta (ou, noutras versões, de um Oráculo de Apolo), lá veio a descobrir que o culpado era ele próprio. Ups!
Um segundo exemplo é igualmente famoso - no primeiro canto da Ilíada o acampamento dos Gregos é afectado por uma praga enviada pelo deus Apolo. Essa praga foi resolvida quando Crises foi devolvida ao seu pai, que era um sacerdote do deus. A cena pode ser vista na pintura acima, mas é curioso que outras versões do mito tenham atribuído uma origem diferente a esta doença, dizendo que os deuses estavam descontentes com a morte de Palamedes. Em ambos os casos, as entidades divinas andavam metidas ao barulho.
Mas o terceiro exemplo de hoje é... algo mais inesperado. Os Gregos da Antiguidade acreditavam verdadeiramente nestas histórias. Então, quando no ano de 430 a.C. a cidade de Atenas foi atacada por uma praga desconhecida, alguns dos habitantes locais decidiram pedir a ajuda do Oráculo de Delfos, aumentar os sacrifícios aos deuses, e outras coisas que tais. Não temos uma completa certeza se isso terá ajudado de alguma forma, mas... tendo em conta que a praga voltou nos anos seguintes, é provável que os deuses estivessem mesmo bastante descontentes.
Esse aspecto miraculoso, essa ligação ao divino, tão presente em diversos mitos gregos, tinha, no seu cerne, um elemento de verdade significativa. Talvez não fosse tanto a necessidade de se sacrificar aos deuses, mas de saber aceitar que existem algumas coisas nas nossas vidas que, enquanto seres humanos, não podemos controlar. Escapam completamente às nossas mãos. E, por isso, como não somos Édipo ou algum outro herói dos seus tempos, talvez o melhor seja mesmo ficar em casa, por agora. Deixamos esse convite.