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Mitologia em Português

20 de Setembro, 2021

A lenda do Beato João de Montemor

São muitas as lendas de Portugal que podem ser associadas a cidades e locais específicos, e esta lenda do Beato João de Montemor, também conhecida sob o nome de "Abade João", pode, naturalmente, ser associada a Montemor-o-Velho*, localidade próxima da cidade de Coimbra, e ao Lorvão.

A lenda do Beato João de Montemor, e o castelo da cidade

Conta-se então que João de Montemor, um beato ou abade, viveu nesta zona em meados do século IX. Tinha a sua função religiosa, e tudo estava bem, até que um dia encontrou um menino abandonado. Criou-o como seu, deu-lhe o nome de Garcia Eanes, e foram felizes muitos anos... até que um dia, por razões agora menos fáceis de compreender, o jovem decidiu abandonar a cidade a juntar-se ao contingente dos invasores mouros. Depressa se tornou um capitão prominente, que participou em muitas conquistas, e recebeu até o nome islâmico de Zulema.

Os anos foram passando, até que este Zulema reencontrou a povoação em que tinha vivido com João de Montemor. O seu comandante, a que alguns chamaram Almançor, encarregou-o de conquistar a cidade, e até associou ao pequeno exército os seus próprios combatentes, gerando um contigente guerreiro verdadeiramente impressionante.

No interior do castelo, João de Montemor depressa se apercebeu que não podia vencer a batalha, até porque a localidade já quase não tinha comida e bebida. Então, para poupar o grande sofrimento que se antevia para mulheres e crianças, os defensores da cidade decidiram cortar-lhes o pescoço, esperando com esse pequeno sofrimento atenuar um que viria a ser muito maior no futuro. Depois, ainda tristes do que tiveram de fazer, depositaram os corpos na antiga Capela de Nossa Senhora de Ceiça e lançaram-se ao combate aos invasores.

A batalha entre os dois exércitos foi enorme, até que o abade/beato reencontrou em combate Zulema, o Garcia de quem tinha cuidado em tempos de meninice. Depressa o venceu, cortando-lhe a cabeça. Os invasores retiraram-se - algumas versões acrescentam que eles foram seguidos e completamente derrotados - e quando os defensores voltaram à cidade de onde vinham, ainda tristes em virtude dos seus actos, depararam-se com um enorme milagre - as mulheres e crianças, anteriormente decepadas, tinham voltado à vida! Milagre!

 

A figura central de toda esta lenda é, como não poderia deixar de ser, João de Montemor. Ela junta duas grandes oposições, o abade - Zulema e também a Cristandade - Islão, com os primeiros a serem mostrados de forma positiva. E, na verdade, o poder das suas acções é confirmado pelo milagre divino de Deus. A mensagem parece até muito clara - quem defende a verdadeira religião é recompensado, quem luta pela considerada "falsa" é levado à mais completa destruição.

 

Se este abade parece ter tido uma existência histórica, esta sua lenda tem, necessariamente, de levantar a questão dos limites entre a ficção e a realidade. Terá Garcia/Zulema também existido, ou sido apenas uma adição a toda a história, para dar uma face visível ao inimigo, uma que pudesse ser contrastada com a bondade e fé nacional?  Tal parece improvável, porque outras versões da lenda - a que contámos aqui é a mais conhecida - dão um desfecho diferente à história, dizendo apenas que esse inimigo foi ferido mas conseguiu fugir... e elas também acrescentam, ou removem, alguns momentos de toda esta história, deixando ambíguo quais os limites dos factos por detrás de toda a história. Assim, não sabemos qual a realidade por detrás desta personagem montemorense, excepto que ele se poderá ter tratado de um abade do Mosteiro do Lorvão no século IX da nossa era, e que combateu contra os Mouros.

 

 

*- Para quem tiver alguma dificuldade em distinguir Montemor-o-Velho de Montemor-o-Novo basta pensar um pouco em ambos os nomes. No tempo da Reconquista Cristã existia um famoso "Monte Mayor", mas à medida que Portugal foi reconquistado pelos Cristãos foi recuperado outro lugar que também tinha o mesmo nome. Em comum, tinham o facto de ambas se localizarem em montes elevados. Assim, para as distinguir, "O Velho" já estava há mais tempo na posse cristã, enquanto que "o Novo", na margem sul do Tejo, só foi conquistado mais tarde.

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