A origem dos Pontos Cardeais
Falar da origem dos pontos cardeais, ou da chamada "rosa dos ventos", pode ser um pouco complicado. Quem tentar fazer uma pesquisa por essa informação na internet encontra, aqui e ali, informações muito variadas e vagas, essencialmente dizendo que estas coisas foram todas elas criadas pelos Gregos da Antiguidade, mas sem que se explique ora sobre o porquê dessa criação, ou se apresentem quaisquer tipo de provas reais. Visto que não gostamos muito que se teorizem as coisas só "porque sim",
Na imagem acima pode ser visto o chamado "Fígado de Placência", que obteve esse nome pelo local em que foi reencontrado em finais do século XIX. A sua data de origem não é completamente clara, mas a cidade, em si, parece ter sido fundada no século II a.C. Agora, o que isto tem de interessante e de relevante para todo o tema é que este se trata de um modelo de um fígado de uma ovelha em tamanho real, com alguma escrita - em Etrusco - com intenções lectivas. Já não é claro como os fígados, e outros orgãos internos dos diversos animais, eram utilizados na altura para prever o futuro, mas o que pode ser visto, sem muita dificuldade, ali em cima é que existe uma tentativa de divisão do orgão em diversas partes.
Isto é importante porque, segundo ainda se sabe, os Etruscos acreditavam numa interpretação de sinais divinos com base no local em que tinham lugar. Assim, uma trovoada a nordeste teria um significado diferente de uma a sudeste, ou de uma a norte; um pássaro que cantava a sul devia ser interpretado de forma diferente de um que o fazia a leste, e assim por diante.
Esta necessidade religiosa de uma divisão dos céus e do mundo, na altura com um total de 16 partições, levou à criação de algo que poderíamos chamar os pontos cardeais por parte dos Etruscos. Nessa sua forma inicial, isto nada tinha a ver com os ventos, como outros artigos insistem em fazer crer, mas com a necessidade de compreender que deus enviava um determinado sinal divino. Uma dada subdivisão pertencia ao Sol ou a Jano, outra pertencia a deuses quase esquecidos como Fufluns ou "leθns"... e para poderem interpretar correctamente todos esses presságios, os sacerdotes de altura tinham de ter um conjunto de vocabulários para designar cada uma dessas posições, o que levou tanto àquilo que chamamos pontos cardeais, mas também - e muito posteriormente - à chamada rosa dos ventos.
O que é muito curioso, mas também muito digno de nota, em toda esta história é que ela não está escrita. Não existe qualquer prova indisputável que diga, contrariamente ao que aconteceu com a origem dos nossos dias da semana em Portugal, que a direcção anteriormente associada a Fufluns agora ia passar a ser denominada "Sul". O que sabemos, sem dúvidas e porque alguns autores latinos nos foram legando essa informação, é que os Etruscos previam o futuro com base nas tempestades e suas localizações, bem como através da utilização de fígados de animais, e a existência de vestígios como os mostrados ali na imagem acima atestam o seu interesse no estudo dessas divisões. Daí até à alteração de nomes de cada uma das divisões vai um passo muito pequeno, e se não sabemos quando ele teve lugar, o processo parece ter resultado de uma readaptação de um conjunto de pesquisas, outrora religiosas, ao mundo secular... e a sua associação aos ventos, necessária para a navegação marítima, também faz bastante sentido.
Portanto, em suma, qual é a mesma a origem dos pontos cardeais e da rosa dos ventos? Na nossa opinião - mas frise-se que, como já apontado acima, não existem provas 100% concretas - essas ideias nasceram dos Etruscos, e da sua comprovada necessidade religiosa de subdividir tanto o mundo terreno como os orgãos internos dos animais em diversas secções, cada uma delas associada por este antigo povo a uma entidade divina diferente.