Os mitos de Tages e Vegóia
Tanto o mito de Tages, como o de Vegóia, parecem ser quase completamente desconhecidos nos nossos dias de hoje. Assim, se a semana passada falámos aqui sobre a civilização etrusca, mais especificamente sobre a forma como os Etruscos interpretavam os sinais divinos, faz hoje sentido que aqui falemos de duas figuras que tanto esse povo como, posteriormente, os Romanos associavam a essas antigas artes.
Sobre a primeira das duas figuras, Tages, contava-se que num dado dia um agricultor estava a abrir sulcos no seu terreno quando, pelo mais completo acidente, abriu um buraco demasiado grande. Nesse momento saiu de lá uma espécie de estranha criança com cabelos brancos, que depressa evidenciou o seu enorme conhecimento das artes humanas e divinas. Face a um tão estranho monólogo, bem como à estranha figura do relator, algumas pessoas das redondezas juntaram-se ao local e foram anotando o que ele ia dizendo, gerando um conjunto de conteúdos que posteriormente se tornaram parte dos livros sagrados da civilização etrusca. Infelizmente, não só esses livros estão agora quase perdidos, mas também o derradeiro destino do próprio herói desta história parece desconhecido - presume-se, portanto, que tenha desaparecido de uma forma tão misteriosa como primeiro apareceu, ou que tenha ascendido aos céus como Rómulo / Quirino.
Sobre Vegóia ainda menos se sabe, mas existem na literatura que nos chegou da Antiguidade algumas breves referências a ter sido ela a profetisa ou ninfa que trouxe ao povo etrusco um conjunto de conhecimentos, ou até livros físicos, relacionados com a interpretação do futuro, então realizado seja pelos órgãos internos dos animais ou pelas trovoadas. Assim, por esse seu papel religioso, ela até se confunde um pouco com a figura anterior, desconhecendo-se os limites dos papéis de ambos na literatura religiosa dos Etruscos.
Tanto o mito de Tages como o de Vegóia já remetiam para um passado muito remoto no tempo dos Romanos, o que pode explicar o porquê de nos ter chegado muito pouca informação sobre cada um deles. No entanto, não pode deixar de ser apontada uma curiosa relação destas duas histórias com uma mais tardia, da mitologia latina, ainda hoje bastante conhecida e que opunha a Sibilia de Cumas a Tarquínio. Terá sido essa uma adaptação de um antigo mito associado a uma ninfa, como a que dá título ao artigo de hoje, e muitas outras histórias que essa civilização tomou dos Gregos? Ou será que nessa altura existiam diversos mitos semelhantes a estes, em que figuras mais ou menos divinas apareciam e divulgavam o que se viriam a tornar ideias religiosas?
É difícil sabê-lo hoje em dia, dado se terem perdido tantas das fontes originais, pelo que resta apontar, sem quaisquer dúvidas, que tanto os Etruscos como os Romanos tinham diversas crenças religiosas cuja origem atribuíam a figuras misteriosas de um passado remoto, mas cujos ensinamentos continuavam a impactar as sociedades romanas até à ascensão do Cristianismo.