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Mitologia em Português

06 de Novembro, 2022

Maria Pacheca, uma transexual do século XVI

Visto que os temas da transexualidade andam hoje em dia muito na baila, decidemos falar de Maria Pacheca, provavelmente um dos mais famosos casos de Portugal. Pelo contexto, podemos depreender que o caso dela se passou em meados do século XVI, mas parece que tudo o que nos chegou sobre esta figura é o relatado por Amato Lusitano, médico que nasceu e faleceu nesse mesmo século. Recordamos aqui as breves linhas sobre o caso, tal como aparecem em Amato Lusitano e as problemáticas sexuais, de Isilda Teixeira Rodrigues:

A igreja da Esgueira, onde viveu esta Maria Pacheca

Em Portugal, na freguesia da Esgueira, a nove léguas de Coimbra, cidade ilustre, havia uma rapariga, fidalga, cujo nome, se não me engano era Maria Pacheca. Chegada à idade em que as mulheres costumam ter pela primeira vez a menstruação, em vez desta, principiou a aparecer-lhe e a desenvolver-se um pénis que até esse tempo estivera interiormente oculto. Desta forma transitou de mulher ao sexo masculino, vestiu fato de homem e foi baptizada, com o nome de Manuel. Foi à Índia, tornou-se famoso e rico, e, ao voltar à pátria, casou. Ignoro, porém, se teve descendência. Todavia estamos cônscios de que ficou sempre imberbe.

 

Pouco ou nada mais se parece hoje saber sobre esta Maria Pacheca - ou Manuel Pacheco, se assim o preferirem - mas o que o relato tem de mais notável é provavelmente o facto de referir, aqui e ali, um construto sexual relativamente simples e que continua a fazer sentido até aos nossos dias de hoje - se tem pénis é homem, tal como se tende a considerar como homens aqueles que têm barba. Isso leva a um certo feiticismo corporal, que também se mantém nos dias de hoje, e a casos como os de Santa Vilgeforte, de que cá falámos anteriormente, e em que pela presença de um (suposto) vestido uma representação de Jesus Cristo passou a ser vista como apenas podendo pertencer ao sexo feminino.

 

Mas a história desta Maria Pacheca não fica por aqui. Como Isilda Teixeira Rodrigues dá a pensar no seu artigo, se tudo isto foi real - e não temos provas reais que o neguem, já que Amato Lusitano parece ter considerado o caso credível - é provável que a mulher que se tornou Manuel Pacheco tenha vivido alguns tempos bastante confusos após a sua transformação. Poderá ter sido isso que levou à sua ida para o além-mar, em busca de novas aventuras e de novas pessoas, porque nas terras em que sempre viveu teria alguma dificuldade em seguir a sua vida como antes, numa outra espécie de tradição que, até certo ponto, também ainda se mantém muito nos nossos dias de hoje. Terá, um dia, tido filhos da pessoa com quem veio a casar...? É um daqueles muitos segredos da História que, provavelmente, nunca se conseguirão desvendar...

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