O "Poema contra os Pagãos"
O Poema contra os Pagãos (em Latim, Carmen contra paganos) é um texto curioso . Pela temática e por várias referências aí feitas entende-se que, muito provavelmente, será no mínimo do século IV d.C., e apesar da autoria do texto (que pode ser lido online e em tradução, por exemplo, neste link) ser desconhecida, parece-me demasiado provável ser da autoria de um cristão.
De uma forma geral, parece-me fácil dividir o Poema contra os Pagãos em duas partes, e é daí que nasce esta referência ao mesmo. Se, no início, este parece ser mais um daqueles textos cristãos contra os pagãos, com as usuais referências às traições de Júpiter, ao Destino como sendo superior aos próprios deuses, aos rituais envolvendo o sangue de gado, e assim sucessivamente, num segundo momento já existe algo um pouco menos frequente, uma crítica directa a alguém que praticava essa antiga religião, através de várias menções a diversos episódios em que os deuses, os rituais ou as anteriores instituições não teriam sido capazes de resolver esta ou aquela situação.
Se, nos textos cristãos da época, o primeiro momento é comum, já este segundo deste Poema contra os Pagãos permite-nos, creio eu, constatar um novo momento do Império Romano, pós-Constantino, em que as críticas religiosas já não se dirigiam tanto a um grupo geral mas, agora, a pessoas específicas, como membros importantes da outra religião, e apesar deles ainda não serem ainda mencionados de uma forma demasiado directa, que nos permita saber, sem margem para dúvidas, quem era a pessoa no foco dessa crítica, pelo menos textos como este permitem que nos apercebamos de uma crescente ousadia, de uma oposição cada vez maior, à religião dos pagãos, que eventualmente levará à destruição dos templos, confiscação de patrimónios, e outras coisas desse mesmo género.