Os segredos da mãe e da madrasta da Cinderela
A Cinderela, enquanto história infantil, é provavelmente uma das mais famosas dos nossos dias. No entanto, a versão que nos chegou pelos Irmãos Grimm, como várias outras, tem vários elementos censurados, necessários para tornar uma história de adultos num conto muito mais próprio para crianças. Até poderíamos aqui contar várias alterações que foram sendo feitas ao longo dos séculos, mas hoje focamo-nos em duas delas, as histórias da mãe e da madrasta da Cinderela. Quem ler a história dessa heroína tal como ela nos é apresentada nos nossos dias poderá deparar-se com um problema, o facto da mãe e a madrasta serem figuras sobre as quais sabemos muito pouco. A primeira é um fantasma cuja existência apenas pode ser subentendida pela existência de uma filha. A segunda, a horrenda madrasta da Cinderela, é-nos apresentada como um ser odioso, que até tem as suas próprias filhas, mas pouco mais. Porém, em versões muito mais antigas são-nos revelados elementos surpreendentes que podem mudar toda a história...
Alguns anos antes, Cinderela, então ainda menina, sentia uma enorme inveja do tempo que a mãe passava com o pai. Para o ter só para si mesma, com a ajuda de uma empregada doméstica empurrou um armário e ensanduichou mortalmente a mãe. Depois, ambas disseram ao pai que nada sabiam sobre esta tenebrosa morte, e que provavelmente a mãe morreu devido a um acidente totalmente caricato. Esta empregada doméstica viria a tornar-se, mais tarde, a própria madrasta da Cinderela.
Sabendo esta informação, o ódio da madrasta - ou será medo, o que ela sentia pela Cinderela? - torna-se muito melhor justificado. Mas esta história ainda não terminou - anos mais tarde Cinderela arrependeu-se das suas acções. Foi ao túmulo da mãe, rezou-lhe, e o espírito da falecida apareceu-lhe no escuro da noite. Primeiro, este espectro perdoou-a pelos seus actos, e depois deu-lhe os sapatos e o vestido para o baile, os mesmos que um dia tinham estado guardados no interior do armário mortal.
O que é curioso nestes elementos que foram sendo sanitizados é o facto de nos darem referências importantes que não constam nas histórias actuais, em que a morte da mãe de Cinderela é um mistério, a filha parece cruelmente injustiçada, a madrasta é um estereótipo maldoso, e uma fada madrinha* surge de uma forma totalmente miraculosa, como um conveniente deus ex machina das tragédias dos Gregos. Mas, ao final do dia, a mãe até existiu, a menina Cinderela não era nenhuma santinha, a madrasta até tinha muito boas razões para os seus actos, e a origem do vestido e sapatos para o baile certamente que chocaria os mais novos...
*- "Madrinha", até em substituição de uma mãe agora ausente e totalmente removida da história...