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Mitologia em Português

15 de Abril, 2019

Um feitiço de amor, provindo de papiros mágicos gregos

Um exemplo de papiro mágico egípcio

Na nossa cultura ocidental, eminentemente cristã, existe um certo tabu em relação ao acesso a um conjunto de conhecimentos supostamente místicos. Mas, ao mesmo tempo, certamente que vários leitores também têm curiosidade sobre o conteúdo de rituais como esses. Nesse sentido, o que hoje trazemos aqui é uma tradução de um ritual provindo de papiros mágicos gregos, que presumimos que ainda não exista em língua portuguesa e acessível ao público em geral. Aqui está descrita a fórmula basilar do ritual, mas onde está escrito "NOME" deveriam, naturalmente, ser adicionados os nomes das pessoas em questão.

 

Feitiço de atracção enquanto a mirra está a ser queimada. Enquanto a mirra está a ser queimada no carvão, recite a seguinte fórmula:

Tu és a Mirra, amarga, difícil. Reconcilias aqueles que lutam um contra o outro; és queimada e forças aqueles que não aceitam Eros a se apaixonarem. Todos te chamam Esmirna, mas eu chamo-te comedora de carne e queimadora do coração. Não te estou a enviar para a distante Arábia; não te estou a enviar para a Babilónia; mas estou a enviar-te para NOME, cuja mãe é NOME,  para me ajudares com ela, para a trazeres até mim. Se ela estiver sentada, não a deixes sentar-se; se estiver a falar com alguém, não a deixes falar; se estiver a olhar para alguém, não a deixes olhar; se estiver a ir ter com alguém, não a deixes ir; se estiver a passear, não a deixes passear; se estiver a beber, não a deixes beber; se estiver a comer, não a deixes comer; se estiver a beijar alguém, não a deixes beijar; se estiver a fazer algo que lhe dê prazer, não a deixes tê-lo; se estiver a dormir, não a deixes dormir. Deixa-a pensar somente em mim, NOME; deixa-a desejar-me somente a mim; deixa-a amar-me somente a mim, e deixa-a fazer todos os meus desejos. Não entres pelos seus olhos, nem pelos seus lados, nem pelas suas unhas, nem pelo seu umbigo, nem pelos seus membros, mas pela sua alma, e estabelece-te no seu coração e queima as suas entranhas, o seu peito, o seu fígado, a sua respiração, os seus ossos, a sua essência, até que ela venha até mim, NOME, amando-me e fazendo todos os meus desejos. Porque eu te conjuro, Esmirna, pelos teus nomes "anocho abrasax tro" e pelos ainda mais convincentes e potentes "kormeioth iao sabaoth adonaipara" para seguires as minhas ordens, Esmirna. Enquanto te queimo e enquanto fores poderosa, deves queimar o cérebro da mulher que eu amo, NOME. Incendeia as suas entranhas e arranca-as, derrama o seu sangue, gota por gota, até que ela venha até mim, NOME, cuja mãe é NOME.

 

Páginas e páginas poderiam ser escritas em relação a este ritual, mas cingimo-nos aos elementos mais básicos - trata-se de um ritual de amor, em que o seu autor procurava causar a paixão amorosa de uma determinada mulher. Para tal, é invocada uma divindade, cuja influência sobrenatural é procurada por quem realiza todo o processo. Perto do final, estão até aqui presentes as chamadas "vozes mágicas", um conjunto de nomes e expressões sem tradução real e que, supostamente, eram segredos muito bem guardados, até porque sem eles a invocação nunca poderia funcionar.

 

Rituais como estes assentam sempre numa fórmula de duas partes, composta por algo que tem de ser feito (aqui, a queima da mirra) e por algo deve ser dito (a fórmula acima), pelo que os elementos aqui constantes ocorrem em muitos outros rituais, independentemente das mais diversas funções que pretendiam ter. Portanto, este é um digno representante dos feitiços criados na Antiguidade, e que esperamos que resolva essa curiosidade de muitos leitores em relação aos processos mágicos de outros tempos.

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