A lenda de Dom Thedon e Ardínia
Em dia que se supõe dedicado ao amor decidimos que teríamos de aqui contar uma história amorosa, e optámos pela de Dom Thedon e Ardínia. Na verdade ela já estava planeada há algum tempo, desde que aqui falámos de Maria Coroada e a Granja do Tedo, por ser a lenda utilizada no local para justificar o nome da povoação, mas chegou finalmente a hora de ela ser recordada por aqui.
Conta então esta lenda que naquele sempre vago Tempo dos Mouros viveu nesta zona, provavelmente até no castelo de Lamego, uma princesa moura de nome Ardínia. Como é comum em histórias como estas, ela apaixonou-se por um cavaleiro cristão de nome Thedon (ou Tedo, ou Thedo, entre outras variantes). O sentimento da jovem foi partilhado pelo cavaleiro, e então eles fugiram para o Mosteiro de São Pedro das Águias, a alguns quilómetros de distância, onde casaram secretamente.
E tudo estaria bem se a história acabasse por aqui, nos mais plenos amores dos seus heróis, mas o pai de Ardínia depressa soube da ocorrência e decidiu procurar pela filha. Face ao grande crime que ela tinha cometido, o da conversão ao Cristianismo, ele sentiu que tinha de a encontrar. E fê-lo, matando-a na sequência do seu crime, e atirou o seu corpo a um rio próximo. Depois, Thedon, sabendo da morte da sua amada, atacou os soldados do pai desta, mas eles eram demasiados para os conseguir vencer. Também o mataram a ele, deitando igualmente o seu corpo ao rio local, que por toda esta bela desventura passou a ser conhecido como o Rio Tedo.
Lendas como esta são muito comuns em todas as regiões de Portugal - relembrem-se, a puro título de exemplo, as lendas do belo castelo de Almourol - e normalmente são utilizadas para se justificar o nome de algum elemento local. Aqui, neste caso em particular, claro que o nome de "Tedo" não poderá deixar de nos soar invulgar, e daí a necessidade da introdução na história de um cavaleiro com um nome igualmente pouco vulgar. "Pouco vulgar", esclareça-se, no mundo real, mesmo naquele suposto tempo da Idade Média, porque nos romances de cavalaria de outros tempos abundam nomes claramente fictícios... e talvez também este tenha nascido de um deles? Não encontrámos nenhuma prova a favor ou em contrário, mas nunca se sabe.... E por isso, os amores de Dom Thedon e Ardínia são, no mínimo, uma forma local de se explicar o nome de um rio, sem que se saiba que verdade há por detrás de toda a sua história.