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Mitologia em Português

21 de Junho, 2021

Dois feitiços mágicos em Português

Como já cá foi dito antes, Luís de La Penha, o bruxo de Évora, é discutivelmente o mais famoso dos bruxos que já viveram em Portugal. Assim, para apresentarmos cá dois feitiços mágicos em Português, achámos que seria correcto que recorrêssemos ao seu conhecimento. Claro que potenciais livros da sua autoria não chegaram aos nossos dias; porém, conforme referido anteriormente, ele foi interrogado várias vezes pela Inquisição. Através dos documentos legais que nos chegaram, que apresentam esses interrogatórios e todas as provas recolhidas contra o réu, podemos aceder a algum do seu conhecimento das artes mágicas.

Dois feitiços mágicos em Português, associados a Luís de la Penha

Este primeiro feitiço, também conhecido como "Ensalmo do Asno", destinava-se a fazer com que os outros obedeçam ao que lhes pedimos. Preserva-nos um exemplo de aquilo que é chamado "magia por simpatia" (o conceito já foi cá explicado antes), na medida que o destinatário é equiparado a um burro e, como tal, instado a agir como o próprio afinal o faria:

Asno és e filho de burra,
Assim como este asno,
Esta burra não pode estar
Sem albarda
E silha e sobrecarga;
Assim como comer
Isto que aqui trago
Se torne burra e asno
E ande a meu mandado,
E me suba pelos pés,
E me ponha na cabeça.

Este segundo feitiço é mais curioso, porque é o tipo de coisa que se vê muito na cultura popular dos nossos dias. Se acreditam nessas coisas - e já cá falámos do Espiritismo anteriormente - certamente que já se interrogaram sobre como é possível evocar o espírito dos mortos. Ora bem, uma potencial resposta também é dada por Luís de La Penha. Segundo ele, uma pessoa deve começar por colocar-se em pé, com uma vela acesa em frente a si, e enquanto se prepara para rezar trinta e três Credos, trinta e três Avé Marias e trinta e três Pais Nossos, deve dizer o seguinte:

Deus é luz
Luz é Deus
Requiescant in pace
Pelos fiéis de Deus.

Quanto terminar todas essas rezas - atente-se ao número simbólico de repetições que todo o processo exige - deverá então dizer o seguinte:

Alma santa desamparada
A este mundo sejas tornada
E de Deus sejas desconjurada;
Por aqueles desejos, ardores e fervores
Que tendes de ver a Deus Nosso Senhor,
Vos peço me venhais falar,
Me respondeis ao que souberdes;
E isto que aqui rezo
Não vo-lo ofereço, nem vo-lo dou
Até me não virdes falar;
E se me vierdes falar
Dar-vos-ei tudo
O que até agora rezei,
E me pedirdes.
Amén.

Esta ideia, da evocação dos espíritos como uma espécie de troca comercial com eles, é na verdade muito, muito antiga - ela já aparecia até na Odisseia de Homero, em que numa dada altura o herói tenta falar com os mortos, para tal "subornando-os" com um preço de sangue. Momentos semelhantes já existiam até em papiros mágicos na Antiguidade, tal como continuam a existir em religiões dos nossos dias, como o Candomblé, em que os espíritos são "convencidos" a tomar determinados caminhos por uma espécie de "subornos".

 

Agora, claro que estes dois feitiços mágicos em Português não são todos aqueles que nos chegaram associados a Luís de La Penha, mas captam duas visões muito distintas da Magia, que se mantiveram relativamente estáveis ao longo dos séculos. Mudam os nomes, mas os rituais até se repetem - num potencial terceiro exemplo, o mesmo bruxo evoca uma tal "Santa Maruta", que na verdade não é mais que Marut, um dos anjos apresentados no Corão, cujo significado original já parecia ter sido esquecido no Portugal do século XVII. E, por erros como esses, se vão criando novas figuras veneráveis, mas a teoria por detrás destes rituais, em si próprios, foi-se mantendo quase igual ao longo dos séculos...

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