"Geografia", de Estrabão
Se pensássemos nesta Geografia de Estrabão como composta por elementos meramente geográficos, parece-nos claro que não poderia deixar de tratar-se de um texto enfadonho. Porém, Estrabão, mais do que meramente descrever o mundo que então conhecia, composto por três grandes continentes, também inclui nos seus relatos informações que, no contexto deste espaço, merecem ser referidas:
- Sempre que possível, o autor confronta o que sabe, ou que viu, com aquilo que os textos de Homero (mais frequentemente, a Ilíada) lhe dizem. É essa a principal fonte que parece ter sempre presente a seu lado, e Estrabão vê-a como uma prova incontornável da geografia que existia no tempo do seu possível autor.
- O autor também refere, ao longo dos seus livros, os locais em que dados eventos mitológicos tomaram lugar. Se alguns deles são relativamente óbvios (por exemplo, a luta de Jasão com o Minotauro só poderia ter tido lugar em Creta), já outros, como os de transformações, o rapto de Perséfone, etc., também são associados a alguns locais, muitas vezes sem que possamos compreender a razão para tal. Tratar-se-ia de simples tradição, ou teria o autor mais algumas razões para associar cada um desses mitos a um qualquer local? Não sabemos.
Esta Geografia de Estrabão é, portanto, mais do que uma obra meramente geográfica, uma que conjuga os locais que o autor vai descrevendo com alguns dos eventos que lá tomaram lugar, e algumas das coisas que lá existem. Não é, em alguma altura, tão detalhado como a obra de Pausânias, mas, aqui e ali, também preserva informações que podem ser interessantes para alguns leitores.