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Mitologia em Português

16 de Novembro, 2023

"João, ou Das Guerras Líbicas", de Coripo

Coripo é um de aqueles autores que foi ficando perdido no tempo, uma figura do século VI, tardia demais para quem se interessa pela Antiguidade e imemorial para quem estuda a Idade Média. Por isso, se nos chegaram pelo menos dois dos seus livros, a obra João, ou Das Guerras Líbicas merece ser mencionada por cá não pela natureza do seu conteúdo - ele relata-nos as aventuras de João Troglita, um general bizantino do mesmo século - mas porque nos permite notar um momento evolutivo muito específico da Mitologia Grega.

João, ou Das Guerras Líbicas, de Coripo

Ao longo desta sua obra, Coripo vai, ocasionalmente, mencionando algumas figuras e eventos da Mitologia Grega, mas fá-lo sempre de uma forma muitíssimo breve e simples, usando ambas como um termo de comparação muito geral para o que pretende descrever, e.g. "nunca se viu um ajuntamento tão grande de homens desde o tempo em que os Gregos se prepararam para invadir Tróia". É sempre tudo muito simples, qualquer estudante mediano de Mitologia Grega não teria dificuldade em compreender as ideias que o autor pretendia veicular. Mas depois, surge uma única ideia menos comum:

Dizem que um dia Dis [ou Plutão] organizou um concílio, quando se preparava para organizar uma guerra contra os deuses, e um milhar de monstros vieram das largas estradas do Inferno. A Hidra e a sinistra Mégara correram para lá, e o velho Caronte deixou o seu barco para trás. Tisífone rugiu num frenesim, abanando a sua tocha de pinho, que é poderosa na chama e no peso, e com ela a furiosa Alecto, com as suas cobras retorcidas, e todas as outras formas que aparecem no vasto Averno.

Toda esta estranha ideia não parece corresponder a nenhum mito dos Gregos ou Romanos que nos tenha chegado. Portanto, de onde vem ela? Ou Coripo pura e simplesmente a inventou para o seu poema, ou ele refere-se a algum mito oral do seu próprio tempo. A resposta correcta, entre estas duas, não é clara, já que mitos que envolvam Mégara, Tisífone e Alecto enquanto figuras individuais não abundam (uma excepção já cá foi mencionada, há mais de uma década), mas parecem ter sido mais notáveis nos últimos séculos da Antiguidade Clássica, com este mesmo autor até a atribuir, aqui e ali, algumas características individuais a cada uma delas.

 

Não sabemos, admita-se de forma frontal, de onde veio este mito incompleto mencionado em João, ou Das Guerras Líbicas, mas o que a obra nos permite apreciar, sem qualquer dúvida, é um estágio do desenvolvimento da Mitologia Grega em que ela já não era uma religião, mas um grupo de ideias que alguns autores escolhiam usar para dar aos seus leitores um termo de comparação, e.g. "este combatente é tão feroz como Aquiles", "nem Hércules, quando atacou Tróia, fez tantos estragos", etc. São uma espécie de referências mitológicas quase sem alma... o que é curioso, já que na mesma obra o autor até apresenta diversas sequências poeticamente belas, mas nunca as conjuga com os mitos que vai referindo.

 

Em suma, a obra João, ou Das Guerras Líbicas, de Coripo, tem alguns "momentinhos" interessantes para quem se interessa pela Mitologia Grega, mas eles não são, na verdade, suficientes para justificar toda a leitura da obra, ainda para mais quando esta não é uma obra muito fácil de encontrar.

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