O mito de Pirene (e os Pirinéus)
Falar do mito de Pirene implica, quase automaticamente, desdobrar esse nome em pelo menos três figuras individuais, com muito pouca ligação directa entre elas. Com o nome de Peirene, i.e. Πειρήνη, conhece-se uma ninfa que teve um filho por Poseidon, e esse jovem teve o triste destino de ser morto por Artémis, levando a própria mãe, desgostosa, a chorar tanto que acabou por se tornar uma famosa fonte da região de Corinto. Mas Pirene, i.e. Πυρήνη, também é o nome partilhado pela mãe de Cicno, figura famosa do Escudo de Héracles, e pela figura a que hoje aqui emprestamos o palco principal.
Sobre este terceiro mito de Pirene, conta-se então que Hércules, aquando do seu trabalho com o Gado de Gerião, passou pela Península Ibérica e por aqui teve muitas aventuras. Numa delas, ele engravidou uma jovem com este nome; não sabemos até que ponto essa relação sexual foi consentida, mas depois, e por razões que não estão muito bem explicadas no mito, ela acabou por dar à luz um estranho ser serpentino. Tremendamente assustada, fugiu sem cessar, acabando por falecer. Depois, o herói eregiu-lhe um túmulo imenso, empilhando repetidamente pedra sobre pedra, acabando assim por construir, com as suas próprias e poderosas mãos, toda a grande cordilheira dos Pirinéus.
Este mito de Pirene é, portanto, uma tentativa greco-latina de explicar a existência das muitas montanhas dos Pirinéus. Sem qualquer dúvida que a ideia não é nova - são incontáveis os mitos e lendas por todo o mundo que têm intenções semelhantes - mas o que torna este especial é o facto de se referir a um local tão próximo de nós. De facto, Jacint Verdaguer, na sua Atlântida, até inclui uma forma adaptada deste mito entre muitas outras histórias associáveis a Portugal e Espanha, tornando esta história dos Gregos e Romanos em uma das mais próximas do nosso país, tornando-a especialmente digna de nota nas linhas de hoje.