"Et in Arcadia ego" - origem e significado
Sobre a expressão et in Arcadia ego, a sua origem e o seu significado, há que frisar que apesar de estar em Latim não teve a sua origem na Antiguidade. Ou, se até o teve, já não nos chegou qualquer prova fidedigna dessa sua antiga existência. Pode ser traduzida como "eu também [estou/estive] na Arcádia", mas a ausência de um verbo na frase latina torna difícil compreender o seu verdadeiro sentido. E por isso esta expressão tem de ser abordada de uma forma ligeiramente diferente do usual. Quando se fala da expressão Et in Arcadia ego tende-se a fazê-lo no contexto de alguns quadros barrocos, de que aqui reproduzimos o de Nicolas Poussin:
O que têm eles em comum? Essencialmente, um confronto do homem com a sua própria mortalidade. Neste caso em particular, isso é simbolizado pelos pastores (da Arcádia, região grega famosa pelos pastores e belos pastos imortalizados na poesia grega) e por um túmulo em que as ténues palavras Et in Arcadia ego ainda podem ser lidas.
Isso leva-nos a dois possíveis significados, tanto para os quadros como para a frase latina - se o verbo oculto fosse no presente, talvez o falecido considerasse que está, ele próprio e apesar do seu estado actual, num outro paraíso como o da Arcádia terrena. Mas se o verbo for considerado no pretérito, como mais frequentemente o é, insta os pastores a considerarem que também eles terão de morrer algum dia. Uma espécie de Memento mori, "lembra-te que terás de morrer". Qual dos dois significados é o correcto? Não sabemos, é discutível, e terá de ficar para os leitores essa conclusão final.