A história de Deus e os três irmãos
Esta breve história de hoje, a de Deus e os três irmãos, tem de ser introduzida por cá com uma breve curiosidade. Ouvimo-la há já alguns anos no México, mas depois foi-nos recontada em Portugal com quase os mesmos detalhes, por parte de uma idosa que nos disse tê-la aprendido com a sua própria avó. É claro que nenhuma delas alguma vez foi ao México, levantando-se a questão da origem de toda a história, que não é simples de resolver, até porque o relato de ambas é muito semelhante, divergindo apenas, e de forma muito vaga, na identidade do visitante. Por isso, contem-se brevemente as suas linhas gerais.
Três irmãos possuiam os seus campos de cultivo, mas dois deles, os mais novos, trabalhavam sempre em conjunto. O terceiro, o mais velho, sentia que por herança todas as propriedades da família lhe deveria pertencer, e então ele nunca colaborava com os mais novos. Um dia, um homem misterioso - que a versão portuguesa diz ter sido Deus, enquanto que a mexicana apenas alude vagamente a esse facto - passou pelos três terrenos e falou com cada um deles. Perguntando ao primeiro, ao mais novo, o que cultivava, este respondeu-lhe "cultivo trigo" - e o homem misterioso "Então, trigo colherás". Depois, fez a mesma pergunta ao segundo, que lhe respondeu "cultivo cevada" - "Então, cevada colherás". Finalmente, quando chegou ao terceiro, o mais velho dos irmãos, perguntou-lhe também o que cultivava - "cultivo pedras", respondeu ele, jocoso, ao que lhe foi dito "Então, pedras colherás", o que acabou por acontecer. Então, triste com a estranha ocorrência, este último recebeu depois o consolo dos mais novos, e voltaram todos a ser amigos como antes.
Muitas podem ser as lições a retirar de esta história de Deus e os três irmãos, mas o grande mistério, e a razão pela qual a publicámos por cá, é mesmo o facto de surgir de uma forma tão semelhante em culturas distintas e pela voz de pessoas que não se podem ter conhecido. Salvo a identidade do viajante misterioso - que, como já dito acima, na versão que ouvimos no México se dá a entender ser Deus, mas sem uma confirmação explícita - as duas histórias são quase iguais. Será que se devem a uma fonte comum, já muito afastada no tempo e quase esquecida, e que foi levada para o outro lado do oceano por um viajante europeu? Visto que a história também existe no Brasil, com contornos muito semelhantes, como pode ser visto abaixo, é quase certo que sim...