A primeira viagem de Cristóvão Colombo
Hoje, falar das viagens de Cristóvão Colombo é falar, quase imperativamente, da descoberta da "América". A ideia não é completamente correcta - voltaremos a esse tema daqui a alguns dias - mas ele não deixa de ser provavelmente a mais famosa de todas as figuras ocidentais ligadas ao descobrimento de um caminho marítimo para as Américas. Por isso, na senda da publicação sobre a "nossa" famosa viagem de Vasco da Gama, devemos aqui contar que também esta nos ficou documentada num diário de bordo da autoria do próprio Colombo - e, de facto, até o próprio texto deixa muitíssimo claro que apenas ele poderia ter escrito essas linhas. Mas como é esse relato, aparentemente escrito para apresentação aos reis de Espanha, que tinham patrocinado toda a sua viagem?
Face a obras semelhantes, este auto-relato da primeira viagem de Cristóvão Colombo tem como aspecto muito interessante o facto de ser apresentado dia após dia. Ou seja, existem aqui sequências que ocupam apenas uma ou duas linhas (e.g. "hoje viajámos X milhas, mas anotei no registo um valor mais baixo para não desencorajar os homens se a viagem for longa"), enquanto que outras se prolongam por várias páginas. Estas últimas referem-se quase sempre aos momentos em que este viajante já encontrou novas terras, procurando então relatar aos leitores tudo aquilo que tinham visto. E há, nesse sentido, três grandes ideias que são mencionadas repetidamente - que os nativos não eram violentos; que não pareciam ter qualquer religião conhecida; e que parecia existir uma povoação onde havia muito ouro nas redondezas.
É nessa terceira ideia que a viagem de Cristóvão Colombo pode ser ligada aos mitos e lendas da sua época. Fazendo fé nessa existência local de muito ouro (que não se veio a provar, pelo menos não nesta primeira viagem...), o viajante pensou ter chegado à costa este da Ásia, o que também o levou a acreditar que a corte de Kublai Khan - o famoso monarca das aventuras de Marco Polo - estaria por perto. Naturalmente que não a conseguiram encontrar, e então este explorador limita-se a contar, aqui e ali, que alguns nativos tinham um ou outro acessório de ouro, o que poderia indicar a presença local de algumas minas dignas de exploração.
Assim, o objectivo desta primeira viagem de Cristóvão Colombo parece ter sido o de encontrar preciosidades que pudesse levar para a Europa, mas também averiguar a possibilidade da expansão da fé cristã nessas novas terras que encontrou. Mas, curiosamente, ele nunca parece ter descoberto aquele local a que hoje chamamos América - ficou-se pela zona de Cuba, da Jamaica, e mais tarde por um pouco da costa central desse novo continente, o que nos levará ao conteúdo da próxima publicação.
P.S.- Uma curiosidade adicional aqui digna de nota. No dia 9 de Janeiro de 1493 Colombo escreveu o seguinte neste seu livro:
Ontem, próximo do Rio del Oro, vi três sereias a subirem acima da água, mas elas não eram tão bonitas como nas pinturas, e as suas caras não eram de todo humanas. Já as vi antes [em outros locais].
Terá sido verdade? Já aqui falámos antes sobre a origem das sereias, mas neste caso específico, como em alguns outros, é mesmo provável que o navegador tenha visto manatins e pensado que eram as criaturas que conhecia dos antigos mitos...