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Mitologia em Português

30 de Janeiro, 2023

O Homem do Chapéu de Ferro e a Velha da Égua Branca - duas lendas (quase) perdidas

Falar sobre as lendas por detrás do Homem do Chapéu de Ferro e da Velha da Égua Branca não é tarefa fácil. Isto porque estas são duas figuras nativas da Mitologia Portuguesa, à semelhança do Secular das Nuvens e do Homem das Sete Dentaduras, que estão hoje já quase perdidas, mas que, ao mesmo tempo, parecem ter alguma espécie de antiga ligação entre elas. Por isso, comece-se por falar das lendas de estas duas figuras individuais, antes de se voltar ao tema de uma possível ligação entre elas.

 

A lenda da Velha da Égua Branca

A lenda da Velha da Égua Branca

Conta-se que, originalmente, esta mulher viveu no tempo de Jesus Cristo, e que nessa altura ela era muito sovina. Um dia, quando foi visitada por essa famosa figura religiosa, recusou-se sequer a dar-lhe um pequeno pedaço de pão. Cristo castigou-a através de um pequeno milagre, fazendo com que o próximo pão que ela cortasse se esvaísse em sangue. Essa estranha ocorrência assustou tanto esta mulher que ela acabou por morrer em apenas três dias... e depois voltou à vida, eternamente condenada a vaguear pelo mundo fora numa égua branca, sempre com a mesma faca sangrenta na sua mão, um provável símbolo do crime que paga eternamente, vivendo agora sob o nome de Velha da Égua Branca.

 

A lenda do Homem do Chapéu de Ferro

A lenda do Homem do Chapéu de Ferro

Também este homem, cujo verdadeiro nome o tempo há muito fez esquecer, viveu na altura de Jesus Cristo. Dizia-se que foi um dos soldados que torturou essa figura religiosa na sequência de acontecimentos que levaram à sua Paixão. Por essa sua acção, também ele foi amaldiçoado por Cristo, mas a pouca informação que nos chegou não preserva completamente o que se passou em seguida. Ele tornou-se o Homem do Chapéu de Ferro, talvez para punir o peso da inconsciência dos seus actos, e é representado como uma das mais estranhas dos mitos e lendas de Portugal. De facto, num caso como este é mesmo melhor referir a informação que nos foi preservada por Teófilo Braga, ligeiramente adaptada para facilitar a leitura:

O Homem do Chapéu de Ferro aparece logo que dá meia-noite e o galo canta, à beira das estradas, por baixo das oliveiras, das figueiras ou junto às fontes. Vagueia até à terça noite, umas vezes acompanhado por um porco preto que grunhe de momento a momento, outras de um grande veado cuja armadura toca o zimbório das torres, ou ainda de um galo negro como a noite de trovões. Todos estes animais que o acompanham, cada um na noite que lhe foi destinada, são o Diabo que toma diversas figuras. Esta entidade mítica tem o poder de causar a tempestade, de fazer parar os raios e de arrasar o mundo, caso o galo, o porco ou o veado o inquietem. Também, para se vingar dos homens que odeia, assalta-os, rouba-os e mata-os. Depois tudo é fumo e labaredas que saem da terra como vulcões. Traz um enorme chapéu de ferro enterrado na cabeça. É uma figura colossal, tem a boca rasgada como a de um monstro, deitando chamas quando se enche de raiva, e a sua cor é a do bronze. Todavia foge quando avista a Velha da Égua Branca.

 

Qual a ligação entre estas duas figuras?!

A última frase da citação de Teófilo Braga deixa claro que se cria, na altura, numa qualquer ligação cósmica entre o Homem do Chapéu de Ferro e a Velha da Égua Branca, mas qual terá sido ela? Se, originalmente, ambas as figuras já se encontravam ligadas a punições de Jesus Cristo, é talvez possível que tenham sido marido e mulher, ou que tivessem alguma outra espécie de conexão pré-morte, que permaneceu após o seu falecimento para a vida humana. Mas, qual terá sido ela, isso é, muito infelizmente, algo que se perdeu com o tempo. Poderíamos aqui apresentar "quinhentas" outras teorias, mas a pura e dura verdade é que as fontes literárias que nos chegaram e que ainda mencionam estas duas figuras não explicam muito mais do que o que já foi apresentado acima. Isto também acontece com muitas outras figuras mitológicas nacionais - e.g. a Peeira de Lobos ou o Tardo - porque, de uma forma agora muito infeliz, em outros tempos não existiu uma verdadeira sistematização na tentativa de preservar as figuras nativas do nosso país, estando elas hoje apenas acessíveis em breves lampejos como os apresentados ali em cima...

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