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Mitologia em Português

08 de Abril, 2021

Origem da expressão "a curiosidade matou o gato"

A origem da expressão a curiosidade matou o gato tem muito que se lhe diga. É uma daquelas expressões que muito bem se conhecem, tanto em Portugal como no Brasil (e provavelmente até em outros países lusófonos), mas que ao mesmo tempo não podem senão suscitar uma enormíssima curiosidade - afinal, qual a sua origem? Será que existiu, verdadeiramente, uma história por detrás de toda a situação, um gatinho que se tenha tornado proverbial após ter falecido em virtude da sua curiosidade, como no caso, que até aqui contámos recentemente, de um menino que aceitou doces de desconhecidos, acabando por ser raptado em virtude das suas acções?

Como é que a curiosidade matou o gato? Qual a origem da expressão?

Se esta expressão, a curiosidade matou o gato, conhecida em Inglês como "Curiosity killed the cat", não parece ter tido a sua origem nos tempos da Antiguidade - ou, pelo menos, não encontrámos qualquer registo literário disso em múltiplas obras sobre provérbios com mais de mil anos - uma expressão que a antecede poderá ter-se tornado famosa através das obras de William Shakespeare. Na sua comédia Much Ado About Nothing (em Português, o seu título pode ser traduzido por algo como Muito Barulho por Nada), surge a seguinte frase da boca da personagem Cláudio:

Que é isso, homem! Coragem! Embora a tristeza possa matar um gato, tens força suficiente para matar a tristeza.

Nessa sua forma anterior, a expressão incitava-nos a afastar as tristezas da nossa vida, porque elas nada de bom nos traziam, mas não existe qualquer registo de um gato específico que possa ter morrido de tristeza - pelo contrário, a expressão refere "um gato", mais do que "o gato", aludindo assim a uma identidade indefinida, mais do que a uma história específica que possa ter originado a expressão. Esse gato era puramente proverbial, e nada mais.

 

Depois, ao longo dos anos a expressão parece ter derivado numa segunda, que na verdade é aquela que nos interessa aqui hoje. Por muito que a procurássemos, o que encontrámos foram alusões que concretizam esse provérbio, mas que ao mesmo tempo nos permitem inferir que a expressão já lhes era anterior, e então lá vão aparecendo diversos casos concretos de gatos que acabaram por morrer em virtude da sua curiosidade. E isso faz todo o sentido, porque se estes felinos são bem conhecidos por essa sua característica - só quem nunca tiver tido um duvidará da sua grande curiosidade! - é um pouco mais difícil, e particularmente situacional, conseguir explicar o porquê de algum deles poder estar triste.

 

Em suma, se os gatos são muito curiosos, e certamente muitos elementos da sua espécie já acabaram magoados ou mortos em virtude dessa sua característica basilar, não existe uma situação concreta por detrás da famosa expressão. O que parece existir, sim, é um provérbio anterior, também ele independente de alguma situação concreta, que ao longo do tempo foi evoluindo para o actual, de forma a captar de uma forma mais precisa as características evidentes do animal. E, portanto, se na verdade a curiosidade matou o gato - e não duvidamos nada que isso já tenha acontecido - o provérbio português não se refere a uma qualquer situação concreta.

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