Refresh

This website www.mitologia.pt/2020/06/?page=2 is currently offline. Cloudflare's Always Online™ shows a snapshot of this web page from the Internet Archive's Wayback Machine. To check for the live version, click Refresh.

Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Mitologia em Português

15 de Junho, 2020

O mito de Zagreu, o primeiro Dioniso (ou Zagreus)

Na Mitologia Grega existem algumas histórias bastante estranhas, entre as quais se conta o mito de Zagreu (ou Zagreus, como alguns preferem chamá-lo). Não é uma trama muito conhecida - na verdade, só nos parece ser contada de uma forma completa no épico de Nono de Panópolis, por volta do século V da nossa era - pelo que achámos que a poderíamos recordar:

Uma cabeça, será a de Zagreu ou Zagreus?

Numa das suas muitas aventuras sexuais, Zeus tomou a forma de uma serpente e envolveu-se com Perséfone. Então tornada grávida, a jovem deu à luz uma criança que viria a ser conhecida como Zagreu. Um dia, quando esta estava a brincar, foi capturado pelos Titãs, que o partiram em mil pedaços antes de o devorarem quase completamente - sobrou apenas o seu coração, que os deuses levaram para o Olimpo.

 

O mito poderia ficar por aqui, mas neste caso específico até tem uma espécie de continuação muitíssimo inesperada. Os deuses gregos não eram omnipotentes (como a morte de Sarpédon na Ilíada bem nos mostra), mas tinham muitos recursos ao seu dispor. Então, o pai Zeus - e deixe-se claro que esta figura não era filho de Hades, como alguns parecem pensar - decidiu reduzir a pó o coração de Zagreu, colocou-o numa bebida e deu-a a beber a Sémele, que ficou grávida. O filho de ambos viria a ser o famoso Dioniso (já cá fizemos uma breve alusão a esse mito), deus do vinho e da vinha, que na verdade era uma reencarnação do falecido Zagreu, conhecido entre alguns autores como o "primeiro Dioniso". Por isso, esse mesmo deus teve um só pai mas duas mães distintas - ele ainda era o filho falecido de Perséfone e Zeus, mas também se torna uma figura completamente nova, nascida do ventre de Sémele pela influência divina do mesmo monarca dos deuses do Olimpo.

 

O que quer isto dizer? Em suma, que Zagreu e Dioniso são quase um só deus, duas figuras que acabaram por partilhar um mesmo corpo (aquele que nos ficou conhecido sob o nome do deus do vinho), naquele que pode ser considerado um dos eventos mais estranhos dos mitos da Grécia Antiga.

Gostas de mitos, lendas, livros antigos e muitas curiosidades?
Recebe as nossas publicações futuras por e-mail - é grátis e irás aprender muitas coisas novas!
13 de Junho, 2020

Origem e significado de "lei de talião"

A lei de talião é a proverbial lex talionis, também conhecida como o princípio da retribuição, "olho por olho, dente por dente", e outras tantas coisas. Já aparecia no Código de Hamurabi, com pouco mais de 3700 anos, sendo, por isso, uma ideia muitíssimo antiga, que claramente precede as próprias expressões que lhe associamos e até possivelmente os primeiros documentos históricos. Procurar a sua verdadeira origem seria uma tarefa dificílima, cheia de muitas teorias e poucas provas reais, mas existe uma outra parte da questão que merece ser explorada - afinal de contas, o que é um talião?

A balança da Justiça, contrária à lei de talião

Normalmente isto seria uma questão simples, bastaria abrir um qualquer dicionário e ver o significado da palavra. Mas quem o for fazer no dicionário da Priberam, por exemplo, depressa se deparará com o mesmo problema que pretendemos focar hoje:

Usado na locução pena [ou lei] de talião, castigo que consiste em fazer sofrer ao delinquente o que ele fez sofrer à vítima.

Ou seja, segundo esta definição, o uso da palavra "talião" remete-nos, única e exclusivamente, para a sua utilização na mesmíssima expressão que nos intriga, "lei de talião", mas sem que nunca se explique o significado dessa palavra específica. O mesmo problema repete-se nas outras fontes que fomos consultar, sem que nunca seja explicado, especificamente, o que aquela palavra individual significa.

 

Cansados de correr em círculos, decidimos tentar uma hipótese diferente. A expressão lex talionis é evidentemente latina. "Lex", lei no nominativo + "talionis", talião no genitivo, com o significado total de "lei de talião". A segunda palavra, no seu nominativo, i.e. o talião, seria talio, mas o que significa isso? O dicionário de Latim que consultámos já nos diz que essa palavra hoje significa retaliação, uma palavra que tem as suas raízes evidentes no vocábulo latino.

 

Por isso, a lex talionis (ou lei de talião) é, pura e simplesmente, a lei da retribuição, de que ao acto negativo X se deve seguir um castigo semelhante. O que é interessante, porém, é que essas duas expressões evoluíram de forma independente, de tal modo que ao longo dos séculos a palavra foi perdendo todo e qualquer significado independente, perdurando hoje na nossa cultura somente como uma estranha recordação de tempos idos.

Gostas de mitos, lendas, livros antigos e muitas curiosidades?
Recebe as nossas publicações futuras por e-mail - é grátis e irás aprender muitas coisas novas!
11 de Junho, 2020

Luísa de Jesus, a primeira serial killer de Portugal

Quem decidir inquirir sobre quem foi o primeiro serial killer português poderá encontrar as mais diversas referências a um Diogo Alves, que viveu na primeira metade do século XIX. Porém, quase meio século antes já uma tal Luísa de Jesus podia ser classificada como serial killer. E na verdade, se Diogo Alves era galego, já esta figura feminina nasceu, viveu, casou, matou, foi condenada à morte e faleceu, tudo isso no distrito de Coimbra, constituindo, por isso e de uma forma muito bem justificada, a primeira serial killer portuguesa.

A Igreja Matriz de Figueira do Lorvão, onde Luísa de Jesus nasceu

Então, e o que fez ela, perguntam? Os seus crimes aparecem detalhados num documento de 1772 - ou seja, quase 40 anos antes do nascimento de Diogo Alves - com o nome Sentença proferida na Casa da Suppliçacaõ contra a ré Luiza de Jesus. Segundo essa fonte, Luiza de Jesus, nascida em Figueira de Lorvão e casada com um tal Manoel Gomes, apenas foi buscar bebés a uma roda dos enjeitados, pretendendo adoptá-las para si mesma e, dizia, para outras pessoas que conhecia.

Isto nada teria de censurável, bem pelo contrário, não fosse o facto de ela, aos 22 anos de idade, ter adoptado 34 bebés, 33 dos quais foram encontrados mortos, tendo ela confessado "apenas" 28 dos crimes e admitido que os estrangulou brutalmente. E porque o fez? Pura e simplesmente porque, por cada uma dessas adopções, o Estado oferecia seiscentos reis (não sabemos quanto será em 2020, mas não seria pouco dinheiro), um berço e 0.66m de lã.

 

Face a tais actos, o documento que lemos define, justificadamente, esta Luísa de Jesus como "um monstro de coração tão perverso, e corrompido, de que não haverá facilmente exemplo no presente século" - nem no século XVIII, nem nos nossos dias, acrescente-se.

Sobre a sua punição, deixamos as palavras do documento original falar por si mesmas - "[Que a ré] seja atenazada, e levada ao lugar da forca; e nele lhe sejam decepadas as suas mãos. Depois do que, morra morte natural de garrote. E dado este, seja o seu corpo queimado, e reduzido a cinzas, para que nunca mais haja memória de semelhante monstro." E esta sua punição parece-nos bem merecida, para aquela que terá sido a primeira serial killer de Portugal.

Gostas de mitos, lendas, livros antigos e muitas curiosidades?
Recebe as nossas publicações futuras por e-mail - é grátis e irás aprender muitas coisas novas!
09 de Junho, 2020

Como é que Luís de Camões perdeu o olho?

Nunca pensaram como é que Luís de Camões perdeu o olho? Há alguns dias fomos almoçar a um restaurante que partilhava o nome do poeta e numa das suas paredes estava uma típica representação do autor dos Lusíadas, como tendemos a imaginá-lo, com uma pala no olho. Essa imagem já é tão comum que poucos parecem ser aqueles que a questionam como potencialmente inverdadeira. Mas de onde vem ela, ou porque achamos que este famoso autor era cego de um dos olhos?

Camões com uma pala no olho

Por mera curiosidade, não pudemos deixar de fazer essa pergunta ao dono do restaurante, que rapidamente nos respondeu que Luís Vaz de Camões foi ferido numa das vistas em Lisboa, durante uma disputa amorosa, por se ter envolvido com uma mulher casada. Seria verdade, ou era apenas mais uma daquelas lendas que se vão associando aos poetas, como quando se pensa que Homero era cego ou que Virgílio tinha poderes mágicos?

 

Partimos em busca de respostas, mas, inesperadamente, todas as fontes primárias que consultámos dizem precisamente o mesmo - que Camões, por volta do ano de 1549, ficou cego do seu olho direito em combate pela praça de Ceuta, e então passou a usar a tal pala no olho.

Alguns dizem, sem provas de maior, que foi atingido pelo ricochete de uma bala, mas não podemos afirmar se é mesmo verdade - infelizmente, nenhum autor da época parece ter preservado uma verdadeira biografia do poeta, no seguimento daquela ideia tão portuguesa de menosprezar o que é nosso. Terá sido essa falta de informação real que levou a uma necessidade de romancear a sua vida com base no conteúdo dos seus poemas... e, verdadeiramente, também lemos de uma forma muito repetida que Luís de Camões foi desterrado para Ceuta, onde viria a perder esse olho, precisamente porque andava a causar demasiadas disputas amorosas em Lisboa, sendo por isso possível que o dono do restaurante estivesse apenas a repetir um sincretismo de... lendas, digamos, que ao longo dos séculos se foram atribuindo a este autor dos Lusíadas.

 

Será, então, completamente verdade que Camões perdeu um olho, fosse ele o direito ou o esquerdo (também não se parece ter a certeza), numa batalha de Ceuta? Não sabemos, mas pelo menos as poucas fontes que temos hoje disponíveis parecem indicar que sim, e tentar afirmar algo que vá muito além disso parece assentar, como os verdadeiros detalhes da morte do poeta, mais na ficção do que em alguma realidade palpável.

Gostas de mitos, lendas, livros antigos e muitas curiosidades?
Recebe as nossas publicações futuras por e-mail - é grátis e irás aprender muitas coisas novas!
08 de Junho, 2020

Os deuses gregos e deusas gregas

Para conheceres todos os deuses gregos e deusas gregas esta página é um excelente ponto de partida, até porque eles e elas são bastantes (!), e para quem tiver essa curiosidade até podemos acrescentar que as figuras divinas dos Romanos ainda são mais - segundo uma obra perdida de Marco Varrão, elas até eram mais de dez mil, que cobriam todas as áreas "do nascimento até à cova". Por isso, uma pergunta justíssima poderia ser-nos colocada - quais eram as principais divindades da Grécia Antiga?

Principais deuses gregos e deusas gregas

Tentar responder a essa questão implicaria, antes de mais, falar dos doze deuses do Olimpo, um conjunto de doze figuras - de ambos os sexos - que têm um papel muitíssimo principal na Mitologia Grega, ao ponto de ser impossível relatar sucintamente todos os mitos em que intervém. São elas as figuras principais entre as figuras divinas do Olimpo. Os seus constituintes variam (por exemplo, apesar da sua importância como um dos três grandes deuses, notaram que Hades não aparece na imagem acima?), mas nunca deixam de apresentar mais ou menos as mesmas figuras, a que aqui associamos até três das suas funções (existem muitas mais):

  • Afrodite, do amor e da beleza.
  • Apolo, da música e das profecias.
  • Ares, da guerra.
  • Ártemis, virgem da caça.
  • Atena, virgem da guerra, da sabedoria, e auxiliadora dos heróis.
  • Deméter, da agricultura (e mãe de Perséfone, num mito de enorme importância).
  • Dioniso, da vinha e do vinho.
  • Hades, dos mortos.
  • Hefesto, ferreiro dos deuses, do fogo (e da fealdade?).
  • Hera, esposa de Zeus e, proverbialmente, mãe dos deuses.
  • Hermes, mensageiro dos deuses.
  • Héstia, virgem do fogo e da casa.
  • Poseidon, dos mares.
  • Zeus, o rei do Olimpo, das tempestades e amante prolífico.
  • ...

 

Quem estiver com mais atenção poderá aperceber-se que falámos de 12 figuras mas estão ali um número maior. Como já referimos, este conjunto não é totalmente estável - por exemplo, Dioniso é uma divindade mais tardia, não fazia originalmente parte do panteão do Olimpo - mas estas são, efectivamente, os principais deuses gregos e as deusas gregas, os mais significativos da Grécia Antiga. Mas, se os Gregos ainda não tinham tantas divindades como os Romanos viriam a ter, também tinham várias outras figuras divinas, de que aqui damos alguns exemplos adicionais:

  • Asclépio, da medicina.
  • Aurora, do nascer do dia.
  • Caronte, que transportava os mortos para o seu destino final.
  • Éris, personificação da discórdia.
  • Gaia, uma deusa primordial da terra, geradora de (quase) tudo o que existe.
  • Hebe, da juventude (que viria a casar com o herói Héracles).
  • Hécate, dos cruzamentos, magia e conhecimento oculto.
  • Íris, mensageira dos deuses (mais ligada a Hera).
  • Momo, da crítica (infundada?).
  • Morfeu, dos sonhos.
  • Nyx, da noite.
  • Perséfone, filha de Deméter e esposa de Hades.
  • Témis, da justiça.
  • ...

 

São "só" estes os deuses gregos e as deusas gregas? Não, naturalmente que não, mas o que se pretendeu fazer aqui foi referenciar as principais figuras divinas, aquelas que têm de ser conhecidas minimamente para que se possam compreender bem as principais histórias da Mitologia Grega. Figuras como Erictónio (filho da virgem Atena), Geras (deus da velhice), ou Macária (a deusa de uma boa morte), até podem parecer interessantes por um breve minuto, mas o papel que têm nos vários mitos é quase nulo, sendo desnecessário conhecê-las a todas de cor. Na verdade, se o número total dos deuses do Olimpo é muito grande, os principais, aqueles que têm maior importância, são apenas aqueles que já referimos ali em cima, por serem eles que também um papel preponderante em quase todos os mitos gregos...

Gostas de mitos, lendas, livros antigos e muitas curiosidades?
Recebe as nossas publicações futuras por e-mail - é grátis e irás aprender muitas coisas novas!
06 de Junho, 2020

A lenda de Jesus no Japão (e os Documentos Takenouchi)

Há já alguns anos que nos contaram uma estranha lenda de Jesus no Japão (já lá iremos). Na altura não pudemos deixar de estranhar a referência, pelo que quando inquirimos mais sobre a fonte dessa informação, falaram-nos de uns Documentos Takenouchi japoneses, supostamente muito antigos, que preservavam toda essa história. E, na verdade, quem procurar pela internet esta mesma lenda - que iremos contar mais abaixo - poderá encontrar, repetidamente, essa mesma informação, atribuída sempre à mesma fonte literária, pelo que convém introduzi-la.

Um Jesus Japonês ou um Jesus no Japão?!

 

O que são os Documentos Takenouchi?

Os Documentos Takenouchi são um conjunto de textos que, alegadamente, preservavam toda a pré-história e história secreta da humanidade, desde a criação do universo até há poucos séculos atrás. Foram escritos em "caracteres divinos", há cerca de 1500 anos foram supostamente traduzidos para Japonês (como isso foi feito não é totalmente claro), passaram de mão em mão até meados do século XX, e depois os seus originais foram destruídos durante a Segunda Guerra Mundial, juntamente com um conjunto enorme de ítens lendários e mágicos. Isto é o que se alega, mas sem provas de maior, e há que ter isso em conta quando forem lidas as linhas seguintes.

 

De que falam os Documentos Takenouchi?

Entre as histórias que os Documentos Takenouchi continham estava relatado, por exemplo, que os nomes de Adão e Eva tinham provindo de um antigo rei chamado Adão-Eva; que Moisés tinha sido sepultado no Monte Hodatsu (onde escreveu outros Dez Mandamentos); que o Japão era o centro do mundo e o Japonês a língua primordial; que dados reis antigos tinham viajado por todo o mundo em máquinas voadoras; e outras coisas da mesma natureza. E é nesse mesmo contexto que surge, depois, uma lenda que diz que Jesus Cristo está sepultado no Japão, mais precisamente no local visto abaixo, próximo da cidade de Shingo:

 

O que diz a lenda de Jesus no Japão?

Mas afinal o que diz essa lenda de um Jesus Japonês, a que os nativos do país do sol nascente chamam イエス・キリスト? Podemos resumi-la, seguindo as linhas dos Documentos Takenouchi - por volta dos seus 20 anos, Jesus Cristo viajou por todo o mundo em busca de conhecimento, passando no Japão, onde estudou num mesmo santuário em que figuras tão ilustres como Buda e Maomé também estudaram. Depois, voltando ao Médio Oriente por volta dos 33 anos, não foi crucificado (um irmão dele, Isukiri, ofereceu-se para tomar o seu lugar nessa punição capital), e fugiu novamente para o País do Sol Nascente, onde viria a morrer aos 108 anos.

 

Dois vídeos sobre os Documentos Takenouchi

Histórias (apócrifas) como estas, de um Jesus no Japão, abundam na mesma fonte literária para outras figuras do Antigo e Novo Testamento, mas naturalmente que parecem muito menos credíveis quando são mostradas assim, no seu contexto original. Agora, se os textos originais não estão disponíveis - foram destruídos, como já foi dito acima - quem for ler... bem, hoje nem é preciso irem ler nada, vejam antes estes dois vídeos oficiais e tirem as vossas próprias conclusões:

 

Pense-se, para terminar, em toda esta estranha situação. Os Documentos Takenouchi não estão disponíveis para análise ou leitura directa (relembrando aquela intrigante Carta de Mar Saba); a informação que temos sobre eles chegou-nos numa obra literária de Wado Kosaka (que, pela mais mera coincidência, até se auto-proclama "Cosmo-arqueólogo"); e eles são a única fonte literária desta lenda de um túmulo de Jesus no Japão, que o turismo local de Shingo certamente agradece. Mas... parece-vos verdade, tudo isto? Mais que uma lenda, talvez fosse muito mais correcto é chamar puro mito à presença de Jesus, ou de um seu túmulo, nessas terras do oriente...

Gostas de mitos, lendas, livros antigos e muitas curiosidades?
Recebe as nossas publicações futuras por e-mail - é grátis e irás aprender muitas coisas novas!
05 de Junho, 2020

O segredo do Buda Gordo

Quando, em Portugal (e muito possivelmente também no Brasil), imaginamos a figura de Buda, tendemos a fazê-lo como se ele fosse gordo. De facto, até é possível comprar um Buda Gordo nas mais diversas lojas de decoração, numa figura semelhante a esta:

Um Buda Gordo

Mas, quem quiser pensar um pouco neste assunto, depressa se aperceberá de um problema notório - esta figura não pode ser Sidarta Gautama, o fundador do Budismo, que tanto prezava o desapego aos prazeres do corpo. Então, afinal de contas, que grande segredo se escond1e por detrás do chamado "Buda Gordo"?

 

Num contexto ocidental não é fácil explicá-lo... essencialmente, os Budistas não têm um deus, uma figura completamente divina, mas após a fundação da sua doutrina por Sidarta Gautama seguiram-se várias figuras que pregaram o Budismo e cujo bons actos em vida os poderiam caracterizar como uma espécie de santos budistas. Entre eles conta-se uma figura que é conhecida na China como "Budai" (ou no Japão como "Hotei"), um seguidor desta religião que tinha uma proeminente pança, que estava sempre a sorrir, e que era muito popular com as crianças.

Vistos de uma forma metafórica, estes elementos podem ser conotados com sinais de boa sorte e de abundância (como também acontece com figuras como Ganesha), tornando a sua representação numa espécie de amuleto de boa sorte, o que contribuiu para a sua popularização fora de territórios budistas. Depois, essa frequência de imagens de uma figura budista gorda levou a que os não-crentes a identificassem com o próprio fundador do Budismo, ou como uma figura (divina?) que os seus crentes tinham em especial favor, como se de um verdadeiro deus se tratasse.

 

Mas este Budai, conhecido entre nós muitas vezes sob o nome de Buda Gordo ou Buda da Sorte, não é Sidarta Gautama. Não é o fundador do Budismo, nem qualquer espécie de figura divina. Se tivéssemos de o definir para um público ocidental, diríamos que é uma espécie de santo budista associado à boa sorte e abundância.

 

Um última curiosidade - como é que alguém que praticava as regras dessa religião, tão ligada ao ascetismo, engordou? Pelo menos uma das histórias a que tivemos acesso dizia que Budai tinha sido muitíssimo atraente, e então muitas mulheres incomodavam-no repetidamente com propostas de índole sexual; então, procurando livrar-se dessas tentações de uma vez por todas, engordou (infelizmente, a história não nos preserva qual o regime que decidiu seguir...), e assim deixou de suscitar o apetite sexual feminino, podendo focar-se mais na sua espiritualidade.

Gostas de mitos, lendas, livros antigos e muitas curiosidades?
Recebe as nossas publicações futuras por e-mail - é grátis e irás aprender muitas coisas novas!
04 de Junho, 2020

O mito de Toth, inventor da escrita

O mito de Toth, figura também conhecida entre nós pelos nomes de Tote ou Thoth, é talvez um dos mais famosos do Antigo Egipto, pelo facto de este deus ser frequentemente apresentado não só como a figura associada a todo o conhecimento, mas igualmente pelo facto de se acreditar que tinha sido ele a trazer o dom da escrita à humanidade, inaugurando uma sequência de (suposta) preservação do conhecimento divino que, séculos mais tarde, acabará por dar lugar ao Corpus Hermeticum, entre outras obras supostamente etéreas e de conhecimento divino.

Toth ao lado de Ammit

Mas o que diz, então, o mito de Toth? Infelizmente, as histórias egípcias que nos chegaram são frequentemente fragmentárias, impedindo que se conte a história deste deus numa só narrativa com princípio, meio e fim, mas temos é pleno conhecimento de um factor muito importante - quando havia a necessidade de escrever ou anotar algo, era sempre este o grande deus envolvido nessa tarefa. Por exemplo, quando falámos sobre a deusa Ammit e a pesagem das almas (deusa novamente assinalada na imagem acima), à sua frente pode ser visto este deus, Toth, prestes a fazer o seu trabalho e a anotar, aparentemente num papiro, o resultado de cada pesagem individual. Era, por isso, um deus escriba, mas também um deus de todo o conhecimento, desde a Astrologia até à Oratória, passando pela Botânica, Geometria e Matemática - ou, mesmo para simplificar, de todas as áreas do conhecimento, sem excepção de maior relevância.

 

Outro elemento comum nas várias referências - agora iconográficas - a Toth é o facto de ele ser frequentemente representado com a cabeça de um íbis, tornando bastante fácil a tarefa de o reconhecer entre os outros constituintes do panteão egípcio. Se existem excepções - também pode aparecer representado sob a forma de um babuíno, talvez pelo facto desses animais poderem utilizar ferramentas, como o deus o fazia para a sua escrita - a utilização da forma de íbis parece ser quase uma regra, mais do que uma excepção.

 

Mas, para terminar, será que existe algum mito de Toth, na Mitologia Egípcia, específico a essa figura? Mais do que procurar um mito essencial em que ele tenha o papel principal, o que encontrámos foram vários relatos em que ele aparece como uma figura secundária, auxiliando, por exemplo, na tarefa de completar o ano com os 365 dias que ainda actualmente tem, ou ajudando Ísis na procura por Osíris. Este deus parece ser, portanto, uma figura importante, mas de segunda linha entre os seres divinos, pelo menos entre as fontes literárias que nos chegaram - mas, admita-se, já não sabemos até que ponto isso capta a realidade existente no Antigo Egipto, podendo Toth ter sido uma figura de maior importância mas cujos mitos essenciais já não nos chegaram bem representados!

Gostas de mitos, lendas, livros antigos e muitas curiosidades?
Recebe as nossas publicações futuras por e-mail - é grátis e irás aprender muitas coisas novas!

Pág. 2/2